segunda-feira, 3 de março de 2008

Carta à Salvador


Querida Salvador,


Hoje faz quase três meses que eu fui embora e desde o dia em que saí daí, já senti saudades de você. Sei que nos meus últimos dias por aí não fui exatamente a melhor das companhias; reclamei muito, só pensava em Bremen e devo com certeza ter sido injusta com você em muitos momentos.

Por isso resolvi te escrever. Pra te falar que apesar dos meus humores normais de ser humano, que apesar de parecer sempre insatisfeita quando estou com você, reclamar de suas ruas, de seus prefeitos, de seus pivetes, de seu estranhamente adorado Pelourinho (alguma coisa na minha alma negra ainda se contorce de dor toda vez que passo por ali) eu te amo muito e sinto muito sua falta.

Vivi muitos anos de minha vida com você e depois que desejei ver outras cidades, conhecer outras culturas, pisar outros continentes, descobri o quanto te amo de verdade. Toda vez que volto, me sinto completamente acolhida, bem recebida, totalmente envolvida no seu calor que não sei como, eu adoro. Depois de 31 anos de vida, ainda me emociono muitas vezes quando passo pela igreja de Santana no Rio Vermelho em direção á Ondina. Aquele mar, e o céu azulíssimo faz qualquer pessoa passar a acreditar que algo maravilhoso e extraordinário existe neste mundo. Adoro a descida da Contorno, com seu mar imenso, seus prédios antigos do outro lado, seus barulhos indicando que tem vida, muita vida ali.

Você é minha cidade mãe, que me ensinou a falar assim, quase cantando e que tem essa gente linda que trabalha feito cão, mas que sempre, sempre tem um tempinho pros amigos, pra um cineminha, uma prainha, uma cervejinha. E onde tudo é assim mesmo carinhosinho, no diminutivo. Te  amo minha cidade, você é mesmo minha salvadora. E apesar de estar me entendendo cada vez melhor com Bremen, quero que você saiba que ninguém me acolhe, recebe e entende como você. Com você sou verdadeiramente quem eu sou: Cris Oliveira, professora de inglês, mulher de muitos amigos, meio maluca, amante de acarajé e cerveja gelada, frequentadora de Dinha, sofredora do Baêa sem "h" e orgulhosa de ser sua filha.

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