Imagem: Pixabay |
Ainda me lembro
da primeira vez em que de fato vi a primavera aqui. Depois de ter vivido nesta
cidade por quase quatro anos, estava de saco cheio da Alemanha. De malas
prontas, só pensava mesmo em voltar a minha terra, onde primavera nem existe. E
mesmo assim, me vi conversando com um amigo alemão, que admira todas as estações
do ano com igual loucura, e em algum ponto da conversa ele falou o seguinte:
- Você já viu
como a primavera está chegando este ano? Nunca vi nada igual... Olhe pra essas
cerejeiras como estão floridas... que tons de lilás... lilás é uma cor da qual
as pessoas quase nunca falam. A última vez que vi uma cerejeira florida assim foi há
exatamente um ano atrás.
Meu amigo estava tão absorvido em
seus pensamentos, admirando e falando das plantas e sua cores, que não pude
deixar de colorir meu olhar pra esta cidade. E foi de fato a
primeira vez que percebi, que por mais que estivesse louca pra entrar naquele
avião que me levaria de volta ao meu mundo, iria sentir muita falta de Bremen.
Ah, a primavera...
eu aprendi muito sobre ela ainda muito menina, na escola. A gente sempre
aprendia sobre todas as estações do ano. A forma totalmente fora de contexto,
importada de países muito mais frios que o meu, na qual meus textos didáticos a
ilustravam, presenteavam-na com uma aura etérea, mágica, colorida, irreal para
mim. Depois de vir parar aqui, aprendi o que aquilo tudo significava.
Aquela conversa com meu amigo alemão, que cresceu vivendo a primavera a cada ano, mas que ainda assim a reconhecia e admirava, me fez sentir um pouco fútil, meio blasé com as belezas do mundo e foi impossível evitar a tão conhecida culpa: como foi que eu consegui estar aqui, por quase quatro anos, e nunca dar o devido valor a cada flor que desabrochava depois de um longo inverno. Como foi que consegui simplesmente continuar meu caminho automático pro trabalho a cada dia, sem perceber que árvores completamente secas por causa do terrível inverno, de repente adquiriam uma penugem verde clara que se tornava cada vez mais densa, até que um dia um flor, com o mais contrastante rosa, vermelho, amarelo ou lilás aparecesse nelas.
Aquela conversa com meu amigo alemão, que cresceu vivendo a primavera a cada ano, mas que ainda assim a reconhecia e admirava, me fez sentir um pouco fútil, meio blasé com as belezas do mundo e foi impossível evitar a tão conhecida culpa: como foi que eu consegui estar aqui, por quase quatro anos, e nunca dar o devido valor a cada flor que desabrochava depois de um longo inverno. Como foi que consegui simplesmente continuar meu caminho automático pro trabalho a cada dia, sem perceber que árvores completamente secas por causa do terrível inverno, de repente adquiriam uma penugem verde clara que se tornava cada vez mais densa, até que um dia um flor, com o mais contrastante rosa, vermelho, amarelo ou lilás aparecesse nelas.
A primavera em
Bremen é algo muito mágico. Ela é muito esperada por todos, porque com ela vem
não só as cores, mas também, os dias nos quais apesar do frio, o sol brilha
intensamente e por muito mais tempo. A primavera convida a um passeio no
parque, a um sorvete com a família, as brincadeiras na rua. Os dias se
tornam mais longos e as pessoas sorriem umas para as outras sem razão. Este ano a
primavera parece não querer chegar em Bremen. Isso aumenta a ansiedade geral. E
pro alemão, tão acostumado a ter tudo certinho e planejado de acordo com um
calendário rigoroso, vem uma inquietação com a qual é difícil de lidar. A
primavera tem de estar aqui a tempo, na hora marcada, como de costume. Que se
dane o efeito estufa e todas as catástrofes ambientais!!!
Deve ser por isso,
que hoje pela manha, percebi vários carros da prefeitura carregados de flores
de diversos tipos e cores circulando pelas ruas. E mais tarde, essas mesmas
flores estavam plantadas, da forma mais ordeira possível, pelos diversos
canteiros da cidade.
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