sábado, 10 de outubro de 2009

Teste de Idiotice

Imagem: Pixabay
Quando cheguei em Salvador, estava curiosa pra ver como as pessoas estavam lidando com a Lei Seca. Logo que ela começou a valer, meus amigos comentaram que não estavam mais saindo pra beber porque o controle estava grande. A alternativa era só beber em casa. Sair pra tomar uma, só mesmo levando alguém que sabia que não ia beber, porque estava encarregado de levar a galera toda pra casa depois da farra. Fiquei impressionada e vibrei de alegria. Finalmente as leis estavam começando a valer de verdade no Brasil. Mas como na nossa terrinha as leis nem sempre são levadas muito a serio, fiquei na expectativa e curiosa pra ver com meus próprios olhos como estava a situação.

A minha impress
ão foi que, como sempre, no Brasil a gente fala mais do que o que faz. A lei existe, as pessoas falam sobre ela, mas na prática todo mundo continua indo pros bares, bebendo e dirigindo. A única diferença é que agora as pessoas sabem que estão correndo risco de pagarem multa e que caminhos evitarem em quais dias e horários. Como o brasileiro tem muito jogo de cintura, também nem me admirei quando de repente no bar um amigo revela:"Ói galera! tá tendo blitz em frente ao Tereza!!!". Tinha recebido um torpedo de alguém que tinha acabado de passar por lá. Ou seja, a lei existe e parece que está sendo cumprida, mas todo cachaceiro que se preze tem muito amigo. E esses amigos sempre sabem onde está a blitz, de forma que durante o tempo em que estive em Salvador, não soube de ninguem que saiu pra tomar uma e foi pego pela polícia...

Aqui na Alemanha o quadro é outro. Como os alem
ães são os reis da lógica, eles se tocaram que nem adiantava criar uma Lei Seca, que não funcionaria. Optaram por serem realistas e tolerantes e a coisa funciona bem. Aqui na Alemanha existe uma tolerância de até 0,5 decigramas de álcool para cada litro de sangue. Isso significa que dá pra dar uma saidinha, tomar duas cervejas e ainda voltar dirigindo pra casa (1). No entanto, a lei aqui pode não ser seca, mas é muito dura e por isso se o bafo do bebum motorista, revelar mais que a quantidade de álcool permitida, a carteira de habilitação é suspensa na hora. Por quanto tempo, vai depender do tamanho da besteira que o motorista criou, assim como também da quantidade de álcool que ingeriu. E não para por aí: para reaver o direito de dirigir, a pessoa tem de passar por uma verdadeira humilhação, mais conhecida como "Idiotentest".

É isso mesmo: vocês não leram errado, nem se trata de um falso cognato. É claro que esse teste tem um outro nome oficial, mas que ninguém usa (2). O termo empregado é o "Idiotentest" mesmo. Acho que isso já é feito de propósito pra matar a pessoa de vergonha e reinforçar que se você está na situação em que está, com a carteira de motorista retida por ter bebido alcoolizado, só porque foi muito idiota mesmo. A pessoa que passa por isso fica com esse carimbo pelo resto da vida, não só na sua ficha policial, como também entre seus amigos, que farão piadinhas sobre isso por toda eternidade. 

Por temerem tamanha humilhação a maioria  das pessoas aqui evitam beber e dirigir apesar da lei ser até tolerante quanto ao limite de alcool que se pode ingerir. Aqui as pessoas parecem ter consciência de que um copo puxa outro e pra evitar estrapolar o limite, nem começam a beber se tem de dirigir (3). Claro que pessoas irresponsáveis existem em qualquer canto do planeta e portanto tem os que contam com a sorte, bebem e dirigem. Mas se um dia a sorte falha e eles se encontram com a polícia, as consequências são de fazer qualquer um ficar sóbrio imediatamente.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Tô voltando

Êta que já faz um tempão que eu não posto nada!!! Andei afastada do blog não por falta de assunto, mas por falta de tempo mesmo. Quero retomar o fio da meada aos pouquinhos. O principal motivo de meu sumiço foi minha viagem à Salvador. Como sempre, foi bom retornar, rever meus amigos, minha família, estar em Salvador, comer acarajé...
Quando se mora fora do Brasil é normal sentir um certo estranhamento ao voltar. Claro que quando se está de férias tudo é festa e acaba que esse estranhamento n
ão é levado muito a sério por ninguém. Mas quando se volta de vez, quando as férias são mais longas ou quando já se está fora do país a um tempinho considerável, esse estranhamento é mais óbvio pra todos. E horroroso pra quem o sente na pele.


De repente, falar a sua própria língua parece meio forçado, você se incomoda com o povo colando atrás de você nas filas, fica se perguntando cadê os dois centavos que estão faltando no troco. Em casos extremos, seus amigos e família começam a te achar meio esquisita, dizem que você está falando português com sotaque estranho (ai, que que isso, né Sil?), se espantam de como você está pálida, te chamam de alemã...

O único problema é que você ainda não se sente alemã, mas já não se sente como brasileira de verdade há muito tempo. Morar fora de seu país tem esse efeito: você fica meio órfã de nacionalidade. É preciso então aprender a ser flexível, tentar esquecer os rótulos nacionais e os esteriótipos bons e ruins que vem com eles e tentar aproveitar o melhor de cada cultura.

Hoje em dia eu gosto de feijoada e de Kohl und Pinkel (1). Gosto do calor e das praias de Salvador e do Bürgerpark de Bremen. Pra umas coisas eu sou mais Salvador, pra outras sou mais Bremen. Acho que essa consciência tem faciliado meu transitar entre meus dois mundos e me possibilitou dizer "Mãinha, o fêjão tá ferveno" quando estava em Salvador e "Moin Moin"(2) para o funcionário do aeroporto ao chegar em Bremen.