quinta-feira, 22 de julho de 2010

Caindo na real



A Copa do Mundo acabou e deixou saudade. Durante o tempo em que durou, era como se eu estivesse vivendo uma espécie de filme ou férias no meio dia a dia. Eu tinha uma desculpa pra tomar cerveja quase todo dia e por toda parte só se via pessoas bem humoradas. Eu gosto de participar da folia de uma torcida de futebol, apesar de ser a torcedora mais de meia tigela que eu conheço. Eu sou dessas que passa o jogo inteiro tagarelando com as amigas e pula toda eufórica na hora que meu time faz um gol. Aliás, eu escolho meus times baseada em critérios nem tanto desportivos, tipo a camisa mais bonita  ou a torcida mais animada. Com tudo isso, ainda me acho no direito de xingar o juíz, dar palpites do tipo "isso aí foi falta pra cartão vermelho" e ficar triste quando meu time perde. No entanto, Copa do Mundo pra mim é um evento surreal. Eu tenho a impressão de que o mundo para pra assistir essa festa do esporte e que a vida só pode ser levada a sério depois que ela acaba. O fim da Copa do Mundo é para mim como ser acordada de forma bruta, ser trazida de volta à realidade de forma violenta e isso chega a doer depois de 28 dias de sonho. 

Despertar dessa forma me obriga a enxergar uma realidade que me deprime: perceber a pobreza aumentando aqui na Alemanha. Outro dia, ainda na euforia de copa do mundo, fui a um festival de rua, a Breminale. Chegando lá, percebi a quantidade de gente que catava latas e garrafas entre as pessoas que se divertiam sem nem se tocar que há mais ou menos dez anos isso era uma cena que não existia por essas bandas. Exatamente por isso o aumento da pobreza aqui me deprime tanto. Se a pessoa é um pouquinho mais atenta, percebe sem sombra de dúvida essa mudança na realidade social. Há dez anos, quem ia pra festival era pra se divertir e não pra catar lata. Esse ano, até criança pedindo eu vi. 

Quando eu estive aqui pela primeira vez em 1999, todo mundo concordava que se tinha alguém pedindo esmola na rua, era porque no mínimo se tratava de alguém que por vício e escolhas erradas, que tinha basicamente jogado as oportunidades pela janela. Hoje em dia tem muita gente sem vício e com vontade de trabalhar à procura de oportunidades que simplesmente estão ficando cada vez mais raras. Numa situação dessas, só mesmo reza barba pra impedir que a pessoa acabe tendo de pedir nas ruas. É óbvio que o que  é considerado pobreza para padrões alemães nem se compara com o que a gente assim classifica no Brasil. Bem estar e igualdade social ainda é um tema que preocupa a sociedade e os políticos por aqui. No entanto, essa procupação também tem diminuído com o passar dos anos e isso me faz perguntar qual será o próximo desenvolvimento da miséria que vai passar a ser normal aqui. Mais criminalidade? Mais desconfiança? Mais investimento em coisas que nos protejam o máximo possível dessa realidade? Cada vez mais separação social?

Na moral, pobreza em qualquer lugar do mundo é um assunto deprê pra caramba. Ainda bem que faltam somente 16 dias para começar o campeonato alemão.