A Copa do Mundo acabou e deixou saudade.
Durante o tempo em que durou, era como se eu estivesse vivendo uma espécie de
filme ou férias no meio dia a dia. Eu tinha uma desculpa pra tomar cerveja
quase todo dia e por toda parte só se via pessoas bem humoradas. Eu gosto de
participar da folia de uma torcida de futebol, apesar de ser a torcedora mais
de meia tigela que eu conheço. Eu sou dessas que passa o jogo inteiro
tagarelando com as amigas e pula toda eufórica na hora que meu time faz um gol.
Aliás, eu escolho meus times baseada em critérios nem tanto desportivos, tipo a
camisa mais bonita ou a torcida mais animada. Com tudo isso, ainda me
acho no direito de xingar o juíz, dar palpites do tipo "isso aí foi falta
pra cartão vermelho" e ficar triste quando meu time perde. No entanto,
Copa do Mundo pra mim é um evento surreal. Eu tenho a impressão de que o mundo
para pra assistir essa festa do esporte e que a vida só pode ser levada a sério
depois que ela acaba. O fim da Copa do Mundo é para mim como ser acordada de
forma bruta, ser trazida de volta à realidade de forma violenta e isso chega a
doer depois de 28 dias de sonho.
Despertar dessa forma me obriga a enxergar uma
realidade que me deprime: perceber a pobreza aumentando aqui na Alemanha. Outro
dia, ainda na euforia de copa do mundo, fui a um festival de rua, a Breminale.
Chegando lá, percebi a quantidade de gente que catava latas e garrafas entre as
pessoas que se divertiam sem nem se tocar que há mais ou menos dez anos isso
era uma cena que não existia por essas bandas. Exatamente por isso o aumento da
pobreza aqui me deprime tanto. Se a pessoa é um pouquinho mais atenta, percebe
sem sombra de dúvida essa mudança na realidade social. Há dez anos, quem ia pra
festival era pra se divertir e não pra catar lata. Esse ano, até criança
pedindo eu vi.
Quando eu estive aqui pela primeira vez em
1999, todo mundo concordava que se tinha alguém pedindo esmola na rua, era
porque no mínimo se tratava de alguém que por vício e escolhas erradas, que
tinha basicamente jogado as oportunidades pela janela. Hoje em dia tem muita
gente sem vício e com vontade de trabalhar à procura de oportunidades que simplesmente
estão ficando cada vez mais raras. Numa situação dessas, só mesmo reza barba
pra impedir que a pessoa acabe tendo de pedir nas ruas. É óbvio que o que
é considerado pobreza para padrões alemães nem se compara com o que a gente
assim classifica no Brasil. Bem estar e igualdade social ainda é um tema que
preocupa a sociedade e os políticos por aqui. No entanto, essa procupação
também tem diminuído com o passar dos anos e isso me faz perguntar qual será o
próximo desenvolvimento da miséria que vai passar a ser normal aqui. Mais
criminalidade? Mais desconfiança? Mais investimento em coisas que nos protejam
o máximo possível dessa realidade? Cada vez mais separação social?
Na moral, pobreza em
qualquer lugar do mundo é um assunto deprê pra caramba. Ainda bem que faltam
somente 16 dias para começar o campeonato alemão.