Eu fechei o mês de março com chave de ouro. Vários itens importantes de
minha interminável lista de coisinhas a fazer puderam ser riscados. Só quem é
viciado em listas vai entender a satisfação que eu senti ao poder riscar itens
que estavam há meses me impedindo de dormir sossegada arrancar a folha velha do caderno e
respirar aliviada com a sensação de mais um dever cumprido. Mas enfim consegui.
Afffffe!! Que alívio. Entre as coisas a fazer que durante meses emperraram
minha lista, estavam:
- dar entrada em meu pedido de cidadania
- concluir meu mestrado e
- fazer minha carteira de motorista alemã.
Quando março terminou e eu percebi que tinha conseguido riscar essas três
coisas de minha lista, fiquei super feliz e decidi que eu merecia um presente.
Resolvi fazer uma pequena viagem com meu amor e pra comemorar minha recém-
tirada carteira de motorista. Resolvemos ir de carro, comigo no volante, é
claro. Aliás, de carro não, porque aquilo não era mais um carro. Alugamos um
Mercedes, que não me lembro exatamente qual era o modelo, porque nunca fui
muito ligada em carro, mas me lembro que era algum Mercedes classe
"C". Mas não classe "C" que vem depois da "A" e
"B", mas classe "C" que com certeza deve significar algo
como "corre como a porra!".
Como já tinha dito, nunca fui muito ligada em carro e nunca gostei muito de
dirigir. Pra mim, carro sempre foi um simples meio de transporte e por isso
nunca entendi direito a galera que curte falar de carro e admira piloto. Mas de
repente, com meu Mercedes alugado fiquei imaginando minha nova carreira como
pilota de Fórmula 1. Aliás, com uma máquina daquelas, eu não teria problema
nenhum em virar motorista em tempo integral. De repente comecei a entender
porque tanta gente é apaixonada por carro e fiquei imaginando que se tivesse um
daqueles ia ter de abandonar meu emprego pra viver só admirando e curtindo meu
carrão e com o tempo eu não teria outro papo. Ou seja, viraria uma verdadeira
babaca. Tá vendo aí? Deus sabe o que faz...
Verdade seja dita, ter começado de repente a achar graça em dirigir, não
foi causado apenas pela paixonite que eu tive pelo carrão. Teve também o fato
de que o trânsito alemão é bem diferente do brasileiro. Tudo é tão bem organizado
(e as pessoas no geral conhecem bem e seguem as regras) que é praticamente
impossível você criar um acidente. E as estradas? Essas aí são tão lisinhas que
você não sente nem um tombinho por mais leve que seja. Ao sinal da mínima
impefeição no asfalto, eles começam logo a consertar. Com estradas perfeitas
assim, não é de se admirar que a velocidade nas auto-estradas em muitos trechos
não sejam limitadas. Existe sim, um limite mínimo recomendado (120 km/h), mas o
limite máximo quem determina é o carro e a habilidade do motorista. E eu meti o
pé! acelerei até 200 km/h e então comecei a me borrar de medo quando sentia
carros passando por mim a 230, 250 km/h. Diminuí pra 180 e essa foi minha
velocidade média durante a viagem. Nos trechos nos quais eu era obrigada a
diminuir pra 120 (onde haviam obras, por exemplo), ficava com a sensação de
estar dirigindo super devagar - como se estivesse indo a 60 km/h.
Adorei minha experiência com a velocidade nas rodovias alemãs e comecei até
a achar que dirigir é divertido. Mas hoje também posso entender melhor porque
eu não gostava disso tudo antes. Sem querer cuspir no prato que comi, e ainda
como, desafio qualquer um a gostar de dirigir diariamente um Fiat UNO basicão e
sem ar condicionado desviando dos buracos no trânsito de Salvador.
O carro que me fez gostar de dirigir |
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