quarta-feira, 19 de julho de 2017

Textão



Em algum momento do nosso processo de emburrecimento, a gente começou a achar a tarefa de ler uma aporrinhação desnecessária. Tudo se tornou muito rápido e superficial, nossa tolerância com a palavra escrita não vai além de duas frases e, com isso, qualquer texto com mais de um parágrafo passou a ser chamado pejorativamente de textão.

No início, eu achava graça, mas, com o tempo, comecei a perceber que eu sentia certo incômodo toda vez que via essa palavra por aí. Me incomoda perceber que uma mistura de preguiça e má vontade faz a gente escolher se distanciar de nossa “literacidade”, o que nos faz perder muita coisa boa no processo. 

Eu sou apaixonada pela palavra escrita. Eu sei que nem sempre consigo tratá-la com o respeito que ela merece, com meus constantes atentados à sua ortografia, acentuação, pontuação e por aí vai, mas eu adoro o processo de tentar acertar com ela. Escrever requer paciência, é um momento quase meditativo, um diálogo complexo com nossa própria mente. Nos obriga a estudar, pensar com calma, reformular, ir e voltar. Escrever é relaxante, além de ser uma ótima prática de crescimento pessoal em vários níveis.

Eu acompanho muitos vlogs e, com isso, aprendo, me atualizo e me divirto bastante, mas nenhum deles até hoje conseguiu substituir a palavra escrita – aqueles blogs clássicos que a gente tem de ler mesmo – de forma alguma. Se pararmos para pensar direitinho, a habilidade de ler, que adquirimos ainda muito pequenos, é uma coisa incrível: identificar as propriedades de cada letra, o que elas, quando juntas, são capazes de fazer e as surpresas que elas guardam em cada palavra. É um processo longo e complexo que culmina em nossa habilidade de poder entender o sentido por trás de símbolos desenhados em papel ou que aparecem nas telas de nossos computadores.

É uma pena termos chegado a um ponto em que nós não só nem ligamos mais para essa maravilha de que somos capazes, como nos recusamos a fazer uso dela. Eu acho isso um processo lindo, complexo e maravilhoso e, por isso, me recuso a odiar textão ou a usar essa palavra com a nova conotação negativa que adquiriu.

Textão para mim sempre foi e sempre será apenas um texto grande. O que faz dele chato e insuportável de ler é um conjunto de características que nada tem nada a ver com a extensão dele. Tendo dito isso, existem textos grandes que são coesos, fluidos, lógicos e gostosos de ler. São aqueles nos quais cada palavra faz sentido e é necessária. Textos longos, sim, mas que vão modificando quem lê a cada linha. São textões em volume, extensão e impacto. Isso é tão bom. Por que transformar isso em uma coisa negativa?

Revisado com muito carinho por Nina Hatty:-)