sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Espiritualidade no mundo real


photo by @artsy-solomon from nappy.com


De vez em quando tenho umas fases mô bara de vida. Não sei exatamente de onde vem o termo, mas acredito que foi cunhado por meu amigo René. Mô bara é uma pessoa que anda descalça, abraça árvores, fala que gostou ou não gostou de alguém por causa da energia e agradece falando “gratidão”.


Vira e mexe eu tenho umas fases dessas. Na verdade, acho que minha vida seria assim permanentemente se não fosse por um pequeno detalhe: aparentemente, ser espiritualizada e ter consciência política/social são duas coisas excludentes.


Há pouco tempo, notei que tudo quanto é de autor e autora de autoajuda que gosto defende a teoria de que devemos evitar negatividade, principalmente nas primeiras horas do dia. Para isso, sugerem que se evite ler notícias porque elas são sempre negativas e essa negatividade toda atrapalha nossa própria energia. 


Eu até entendo isso, mas e aí? É pra gente viver completamente alienado e alienada em relação aos eventos, sejam  eles mundiais ou locais? Eu não consigo conceber uma espiritualidade que ignora o coletivo.


Concordo que o mundo anda muito negativo. As notícias são de fazer qualquer pessoa não querer nunca mais sair da cama. No entanto, fico me perguntando se só existem mesmo duas opções: cuidar da espiritualidade e ser alienada versus ser politizada e completamente desconectada da espiritualidade. 


Pessoalmente, não consigo entender uma espiritualidade baseada no desinteresse pelo mundo do qual fazemos parte. Eu acredito que sou parte do todo e que esse todo está em mim. Sendo assim, ignorar o mundo seria ignorar esse todo do qual eu faço parte e isso, ao meu ver, não está em concordância com uma espiritualidade plena. 


Eu, claramente, necessito desses dois elementos na minha vida. Só ainda não sei ao certo como podem coexistir em harmonia dentro de mim.  Por isso é que meu mô barismo vem em fases. Por vezes estou mais centrada, mais conectada comigo mesma e outras vezes estou mais antenada com os acontecimentos ao meu redor, me engajo mais, consigo participar de forma mais ativa das questões políticas e sociais cotidianas. 


Essa dicotomia me inquieta.Queria conseguir viver uma espiritualidade plena, que para mim significa me manter bem informada sem deixar que a negatividade das notícias interfiram em meu humor, na minha energia e na minha fé na humanidade. Alguém aí sabe como se faz isso?