domingo, 9 de maio de 2021

Meu primeiro dia das mães sem mãe

Já se passaram 40 dias desde que minha mãe se foi. Está sendo uma fase muito estranha, cheia de primeiras vezes tristes, como hoje. Meu primeiro dia das mães sem mãe. Mas mesmo no meio de tanta saudade e tristeza eu tenho conseguido encontrar motivos para agradecer. Sou muito agradecida por todos os momentos que eu vivi com ela e  tenho a certeza que eles povoarão as minhas memórias enquanto eu viver. Nossos momentos felizes foram maravilhosos e os momentos difíceis serviram para me formar enquanto ser humano e por isso eu agradeço.

Agradeço também por todo amor que tenho recebido durante todo esse tempo. Nas minhas redes, e nas redes do Continuidade, foram centenas de mensagens de carinho e apoio que chegaram até mim. Cada uma delas tocou meu coração de uma maneira muito especial. Muitos dos que me escreveram infelizmente também perderam os seus e por isso sabem exatamente o tipo de dor que eu estou passando. A essas pessoas meu abraço solidário também. Hoje eu entendo que a saudade que sentimos quando perdemos nossos pais tem uma característica bem particular. É como se de repente perdessemos o nosso norte, nossas referências e fonte original de carinho, amor e proteção. Ninguém mais nesse mundo para me amar incondicionamente. É um sentimento profundo de orfandade apesar de meu consciente saber que eu não estou sozinha. 


Agora é tempo de eu me reorganizar, de me redescobrir enquanto pessoa e de me reinventar nesse novo lugar que a vida está me colocando. O primeiro dia das mães sem ter uma mãe só minha me trás muitas saudades. Ao mesmo tempo, começo a entender que o luto não é algo que eu precise superar e sim aprender a integrá-lo na minha vida. O luto pode ser uma expressão de amor e o nosso amor era imenso demais.

 


A todas as mamães um feliz dia!

domingo, 10 de janeiro de 2021

AmarElo

Faz tempo que um disco não me emociona tanto quanto o AmarElo, de Emicida. Sim, eu chamo de disco mesmo - com toda consciência de que isso me faz parecer uma pessoa muito antiga. Tem nada, não. Sou coroa mesmo, com muito orgulho!

Imagem: Netflix
 

Mas vamos falar de AmarElo. Emicida lançou esse disco em 2019. De lá pra cá, fez um mega show no Teatro Municipal de São Paulo, um documentário, um podcast e deu pelo menos um milhão de entrevistas sobre esse seu trabalho. Desde seu lançamento, virava e mexia, eu me batia com essa obra.

Para mim, primeiro o AmarElo de Emicida apareceu em um podcast que eu gosto, em que se falou sobre ancestralidade, o poema Ismália e muito mais. Achei interessante, mas tinha uma lista enorme de coisas que eu quero ler, ouvir, escutar, fazer. Anotei o nome na minha lista de discos para ouvir e segui com a vida. Não demorou muito, lá está Emicida outra vez em outro podcast que eu gosto. Dessa vez, ele fala do processo de criação do disco. Muito interessante. Achei linda a forma como ele falou do processo. Fui anotar na minha lista de discos para ouvir e, chegando lá, encontrei a minha anotação anterior. "Segunda vez... nossa, tenho de escutar esse disco logo". Mas, mais uma vez a vida foi passando e eu fui dando prioridade a outras coisas.

Aí de repente o documentário apareceu na Netflix. Resolvi adcionar o disco a minha biblioteca no Spotify. Algumas semanas se passaram e eu pensei: tá na hora de escutar esse disco. Dei um play e fui arrumar minhas coisas e fazer uma minifaxina em meu escritório. Depois da primeira música, largei a vassoura caí sentada na cadeira e escutei cada música com muita atenção, de olhos fechados, prestando atenção em cada detalhe e devorando a sonoridade e as palavras de Emicida.

Por uma fração de segundo, cheguei a me chatear comigo mesma por não ter escutado antes. Depois disso, minha querida amiga e companheira de podcast, Flora, me perguntou: “Amiga, você viu o documentário de Emicida?”. Foi a gota d’agua. Foi desligarmos o telefone e eu ir assitir. Não queria mais perder nenhum minuto para saber tudo que pudesse sobre esse àlbum.

Fazia muito tempo que um disco não mexia tanto comigo. Depois de escutar ínumeras vezes no repeat, algumas faixas ainda me emocionam profundamente a ponto de me fazer chorar. Apesar de ser uma grande admiradora do poder e poesia das palavras, as de Emicida tocam muito fundo em feridas abertas que eu nem sabia que eu tinha.

AmarElo tem um força que, às vezes, vai ser como um soco no estômago, outras, como um abraço apertado de alguém que te ama. Por vezes ele escancara as feridas, em outros momentos, suas palavras vêm como um bálsamo. Em um único álbum, ele inflama, resiste e afaga.

Se dê esse presente: escute AmarElo e assista ao documentário de mesmo nome, de Emicida. No final das contas, vai ficar a certeza de que "tudo, tudo o que nós tem é nós" e que por isso mesmo "tudo está em paz".

Imagem: Google

 Um grande obrigada a minha querida Nina Hatty pela revis
ão:-).

domingo, 3 de janeiro de 2021

Rituais

Eu sou apaixonada por rituais. Inícios de ciclos são momentos maravilhosos para isso. Faz alguns anos que eu me habituei a respeitar alguns rituais de início de ano. Ano passado eu falei de um deles aqui. Este ano, queria apresentar mais um, que me acompanha o ano inteiro: o ritual da gratidão.

Imagem: Pixabay
 

Se tornou muito comum a gente se perder na correria de nossas obrigações, nas repetições de nossos dias e na obviedade de tudo que nos cerca. Nós nos acostumamos, rapidamente, às nossas circunstâncias e, nessa brincadeira, acabamos esquecendo que muito do que temos são, na verdade, privilégios. Todo mundo tem dificuldades e algumas barras difíceis de aguentar. Mas se você está em algum lugar mais ou menos confortável lendo isso aqui, é sinal que em alguma medida, você também tem alguns privilégios, por menores que sejam, eles estão aí. É nesse contexto que entra meu ritual dos agradecimentos.

Não fui eu quem inventou isso. Como quase tudo nesse mundo, a ideia do ritual de gratidão não é nada original. Eu o encontrei pela primeira vez em uma crônica escrita por Elizabeth Gilbert e acredito que ela deve ter se inspirado em alguma outra pessoa, que por sua vez deve ter entrado em contato com isso através de alguma outra pessoa antes dela. Ideia boas não precisam ser originais. Elas só precisam ser encontradas, traduzidas para as nossas realidades e passadas adiante.

O ritual da gratidão que quero compartilhar com vocês é simples. Elizabeth Gilbert o chamou de “Gatitude Jar”. Eu chamo de “Pote da gratidão”. O pote da gratidão é, literalmente, isso mesmo que o nome sugere. Peguei um pote de vidro e me habituei a todos os dias escrever uma ou duas coisas pelas quais eu sou agradecida naquele dia. É simples. Eu comecei a guardar papéis de presente usados, cortar em tirinhas e deixá-los separados dentro de um envelope em algum lugar fácil de encontar. Todos os dias, ao chegar em casa, pego uma dessas tirinhas (ou quantas forem necessárias) e escrevo alguma coisa pela qual eu sou grata naquele dia que está acabando. 

A forma é mais ou menos a mesma. Escrevo alguma coisa pela qual estou grata e o porquê. Não precisa ser nada grandioso. Toda vez que falo desse ritual pra alguém, a primeira pergunta que me fazem é “você escreve a data?”. Confesso que nunca tinha pensado nisso, por isso no meu às vezes tem data, outras não. Se você resolver fazer, decida então se o seu vai ter data ou não. No final das contas, uma tirinha de gratidão fica mais ou menos assim:



Eu hoje sou grata por ter conseguido escrever o email para fulaninha que eu vinha adiando por semanas porque finalmente vou poder riscar isso da minha longa lista de afazeres.

Eu hoje sou grata por ter lavado as roupas que estavam se acumulando na cesta de roupas sujas porque assim meu quarto ficou mais limpo e organizado.

Em alguns dias os agradecimentos são mais profundos e poéticos, em outros é mais trivial. O objetivo direto não é escrever um poema. A poesia, no entanto, se revela na inteireza do ato. No processo de incorporar o agradecimento ao meu dia a dia, notei algumas coisas mudando. De repente, reclamar das coisas não faz muito mais sentido porque acabei me acostumando a sempre notar o lado bom dos acontecimentos. Ao incorporar essa prática ao meu cotidiano, me tornei especialista em encontrar a leveza, a graça e o sentido das coisas, meu foco foi para o que há de positivo nos meus dias e, com isso, mesmo o mais sem graça deles passou a revelar uma beleza escondida.

Imagem: Cris O.
 

Como se isso já não fosse motivo suficiente, no final ainda acabei, sem querer, criando uma peça de decoração lindinha e inusitada que tem um valor inestimável para mim. Pessoas que chegam aqui em casa e vêem esse pote sempre perguntam do que se trata e a minha resposta também acaba gerando conversas interessantes. Em dias tristes e difíceis, criei o hábito de reler os meus motivos de gratidão durante o ano e isso também me ajuda a relembrar de como a vida é boa pra mim. Sou muito grata por ter o privilégio de ter tanta coisa para agradecer.

Imagem: Cris O
 

Ou seja, se você está sentindo falta de mais leveza e poesia na sua vida diária, experimente fazer um pote desses. Você tem algum ritual de ano novo? Algum ritual de gratidão? Conta pra mim! 

Adoro aprender e incorporar novos rituais à minha vida. 


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Sou extremamente grata a Lali Souza pela revisão deste texto:-).