domingo, 26 de agosto de 2007

Há quanto tempo

No silêncio de sua casa mal iluminada, a cadeira a ranger, dona Luisa espera. Não sabe ao certo o quê. Espera simplesmente e sabe que daqui a mais ou menos meia hora chegará. Sempre um pouco tarde. A vela acesa hipnotiza, encanta, traz lembranças felizes de um tempo que não volta mais.

Na sua doce infância, a cristaleira da casa de sua avó parecia tão grande e imponente em seu canto da sala a reluzir seus cristais. Hoje, empoeirada em sua imensa sala de jantar, parecia mais frágil, pequena, melancólica. Ouviu vozes. Doces vozes da infância. Como era mesmo a voz de Laura? a esganiçada voz de Laura que fazia todos rirem quando ela dizia... Como era mesmo? Não se lembrava.

Ouviu vozes próximas, vozes de pessoas a chegar e o mesmo toque de campainha que ouvia há trinta anos. Acendeu as luzes. À porta suas irmãs Laura e Áurea. Nossa, há quanto tempo... A porta rangeu ao lhes dar passagem. Como tinham mudado! Laura estava bonita, elegante... o corpo submetido a tantas intervenções não deixava a idade aparecer. Assim era muito fácil enganar o tempo. Loucuras que não eram pra ela. Áurea tinha mesmo deixado o tempo agir. Mais até do que ela mesma. Melhor mesmo sentar-se. Caminharam pela sala e seus passos eram marcados pelo ranger da madeira sob seus pés. Ao sentar-se Luisa corou ao perceber que a toalha da mesa era a mesmíssima toalha pruída que cobria a antiga mesa na última vez que se encontraram. Puxa, como era esquecida! Deveria ter se lembrado de dar uma mão de tinta na parede.

E alí ficaram as três na ampla sala da casa que fora de sua mãe, perto da triste cristaleira, a lembrar estórias de um tempo que não volta mais
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Why isn't grammar everything

Imagem: Pixabay
Encontrei este texto no meio de um material sobre gramática que recebi na sessão de treinamento para professores da Richmond. Não sei de quem é a autoria, mas é engraçadíssimo.

Dear Son

Just a few lines to let you know that I am still alive. I am writing this slowly because I know that you can't read fast. You won't recognize the house when you come home. We've moved.

About your father, he has got a lovely new job. He has 500 men under him. He cuts grass at the cemetery. Your sister Mary had a baby this morning. I haven't found out yet whether it's a boy or a girl, so I don't know if you're an aunt or an uncle.

I went to the doctor's on Thursday and your father came with me. The doctor put a small tube in my mouth and told me not to talk for 10 minutes. Your father offered to buy it from him.

Your uncle Patrick drowned last week in a barrel of Irish whiskey at the Dublin brewery. Some of his workmates tried to save him but he fought them off bravely. They cremated him and it took 3 days to put the fire out.

It only rained twice this week, once for 3 days, then again for four days. We had a letter from the undertaker. He said that if the last payment on your grandmother's grave wasn't paid in 7 days, up she comes.

Your loving Mother,
P.S. I was going to send you five pounds, but I've alredy sealed the envelope.