domingo, 24 de dezembro de 2017

10 anos de A Saltimbanca



Já que faltam pouquíssimos dias para 2017 acabar, tive de correr para falar sobre uma data importantíssima aqui pro blog. Em 2017 A Saltimbanca completou 10 anos. 10 anos, gente! Imagina isso ai... Descobri por acaso e por pouco não deixei passar em branco. 



Quando comecei em agosto de 2007, tinha duas intenções: uma era perder o medo de expor o que eu escrevia e o segundo era responder de uma só vez as perguntas que me iam sendo feitas pouco a pouco por pessoas que eu conhecia há vários anos no Brasil, e que estavam interessadas em minhas andanças depois que me mudei para Bremen.


Durante todo esse tempo, meu blog me encheu de alegrias, me deu motivos para pesquisar e me ajudou a conhecer pessoas bacanas. Apesar de quase nunca conseguir manter minha meta inicial de postar uma vez por semana, A Saltimbanca me estimula e escrever e a refletir sempre. Isso é uma coisa que me ajuda tanto profissionalmente quanto em minha vida pessoal.



Ao reler meus posts antigos percebo o quanto evolui. Redescobri a importância de ser cuidadosa com as palavras e comecei a fazer uma verdadeira faxina em meu vocabulário. Descobri a necessidade de me aprofundar em todas as discussões nas quais eu me meto para não correr o risco de ser injusta com ninguém sem querer. 


Por causa de A Saltimbanca, transformei o ato de estudar em hobby e como consequência embarquei num processo maravilhoso de desconstrução e amadurecimento. Decidi aproveitar esses 10 anos para fazer releituras tanto literais, como as que me fizeram descobrir essa data maravilhosa, como as metafóricas, que vão me ajudando a me desenvolver como ser humano. 

 
Vou seguir fazendo isso no meu ritmo, sem me obrigar a nenhum tipo de regularidade aqui, mas o meu compromisso com meu blog seguirá sendo o mesmo: meu crescimento individual, a troca de ideias e ampliar a rede de contatos com pessoas da mesma “vibe”. 


Quem vem comigo?

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guest Post: Pra Falar de Comer em Bremen - Por Lali Souza



Sendo bem sincera, nunca pensei que um dia fosse a Bremen. Porém, a saudade e a vontade de conhecer a casa de Cris – também conhecida como a dona deste blog – falou mais alto.  Ainda bem.

Depois de mil planos e promessas, finalmente - como gente diz lá na Bahia – “arrumei meus pano de bunda” e parti para conhecer a tal cidade. O resultado eu conto logo, porque eu não tenho exatamente muita paciência pra suspense: AMEI. Foi paixão à primeira vista. Por isso acho que fiquei tão animada e honrada quando Cris me convidou a dividir minhas impressões aqui.


Já de cara, me encantou a organização e limpeza da cidade. A sensação que dá, logo nas primeiras voltinhas, é que tudo está no lugar certo, sem espaço pra muita bagunça. Mesmo com uma série de obras viárias rolando, a cidade funciona, flui bem e isso é muito massa. 


Outro aspecto que fez meus olhos brilharem é o fato de ela ser toda projetada para as bicicletas. Talvez por eu ser de Salvador (haja ladeira!), onde ciclovia é coisa rara de se ver, isso tenha me chamado tanto a atenção, mas eu achei super bacana (além de sustentável) ver gente de tudo quanto é tipo, idade, famílias inteiras pedalando juntas por aí. E as criancinhas? Um caso de amor à parte.


Ao todo, foram oito dias intensos, que envolveram estar entre amigos, passeios, turismo, pedaladas, tudo regado a MUITA comida boa. Bremen também me ganhou pela boca. A impressão é que se come bem a preços justos, o que é super importante, principalmente para uma estudante como eu. A relação custo X benefício me surpreendeu positivamente.


Eu acredito que uma das melhores formas de se viver uma cidade é provando os seus sabores. Resolvi compartilhar as seis experiências gastronômicas que mais curti em Bremen, pois não encontro uma forma mais “a minha cara” de retratar essa estadia. De quebra, o post ainda fica de inspiração para quem passar por lá.


1) BRATWURST: Aquele bom e velho clichê alemão que é pedida obrigatória: salsicha. Essa é das boas e pode vir acompanhada de pão ou de batatas. Provei no Biergarten da Haus am Walde, no Bürgerpark, por 5,90€. Aproveita para tomar uma bela cerveja e dar uma volta de bicicleta pelo parque, que é lindo.
 

2) YALLAYALLA FALAFEL: É um restaurante de comida árabe ma-ra-vi-lho-so. A refeição custa por volta dos 9€ e é apenas enorme! Tivemos um pequeno problema com o atendimento (pedi a minha refeição em versão wrap e veio no prato), mas o rapaz conseguiu contornar a situação com simpatia, uns biscoitinhos grátis e ficou tudo bem.


Se você gosta de comer pra se acabar, este é o lugar certo. Caso não seja a sua praia, divida um prato com alguém e seja feliz, pois vem o suficiente pra dois.



3) SCHÜTTINGER: É a cervejaria mais antiga de Bremen. O lugar já anima pela decoração incrível em clima medieval, que pede o quê? O quê? Cerveja, claro. Para acompanhar a brejinha, comemos Currywurst, que é uma salsicha delícia, com molho de katchup e curry, acompanhada de batatas fritas. A versão pequena do prato (foto) custou 7,40€.


4) ROSUŁ + ROULADEN: Tive a honra de ser convidada para uma típica refeição polonesa durante esses dias em Bremen e a experiência foi incrível! Tomamos Rosuł de entrada, uma sopa com massa e legumes deliciosa. Ela é tão cheia de sabor que poderia ser prato único, mas a folia gastronômica não parou por aí. 


Como prato principal, serviram uma espécie de rolo de carne recheado chamado Rouladen. A carne é acompanhada de um molho muito bom e uma espécie de “bolinhos de batata”, que eu vou ficar devendo o nome (foi mal aí!).


Se você tem um amigo ou conhece alguém que tem um amigo/parente Polonês, peça isso. Peça com vontade. Vai valer a pena! 


5) KNIPP: Mais uma salsicha, sim. Ela é feita da mistura de carne e grãos e é, simplesmente, maravilhosa. A aparência não é das mais incríveis, mas pode confiar no sabor, é incrível. Como já é de se esperar, vai bem com batatas. Eu não tenho fotos, pois a fome foi mais rápida! 


6) CERVEJA, É CLARO! A Alemanha é o paraíso para os amantes da breja, né? Bremen é recheada delas e tem de tudo quanto é preço, tipo e lugar. A BECK´S é uma marca da cidade e é bem gostosa. A cerveja não é muito pesada e, geladinha, refresca que é uma beleza. Outra que provei por lá é a Hemelinger. Saborosa e encorpada, uma boa opção pra provar também.
 

Essa viagem ainda marcou o meu reencontro com a cerveja que mais amo no mundo. Sei que o tema aqui é Alemanha, mas adorei saber que em Bremen vende a New Castle Brown Ale. Caso vá a Bremen, aproveite pra cometer esse pequeno (e gratificante) pecado!


Não é que a tal Bremen ganhou um lugar todo especial no meu coração? A experiência foi memorável, não somente pelas pessoas lindas que revi e conheci, mas por ser uma cidade, realmente, encantadora. Auf Wiedersehen, Bremen. Danke!

domingo, 20 de agosto de 2017

Seu olhar invasivo


Lá ia eu andando pelo centro da cidade de Bremen, indo resolver uma coisinha aqui, outra ali, quando, de repente, escuto alguém falando alguma coisa em português. Isso é um fenômeno quase mágico quando se mora no exterior. Você ouve sua língua, e é como se de repente tudo virasse pano de fundo. Em momentos assim, eu imagino como se a cena parasse e o que eu tinha ouvido em meu idioma se amplificasse. Eu adoro isso. Naquele dia, no entanto, eu teria aberto mão de meu superpoder de brasileira de reconhecer meu próprio idioma misturado onde quer que ele esteja para ter sido poupada de ouvir o que eu ouvi. 

Era um conhecido das antigas. Um cara bacana de quem eu gosto nem sei por que, afinal, temos pouca coisa em comum e pouquíssimo contato. Sempre encontrava com ele nas farras da vida, falávamos merdas juntos, dávamos risadas. Esse era nosso nível de convivência.

E, onde quer que ele me veja, sempre grita alguma piadinha, mesmo que esteja do outro lado da rua. Eu sempre respondo com uma risada e outra piada pronta e sigo meu caminho. Já fazia um tempinho que não encontrava com ele por aí, quando, de repente, escuto sua voz no meu idioma, que se destaca e faz o alemão virar barulho de fundo:

- “Não mudou nada! Continua linda! ”

Me viro para tentar identificar de onde veio a voz e, toda alegre, cumprimentar meu conhecido que não via há uns bons 8 anos, e ele repete:

- “Continua linda como antes. ” E acrescenta:

- “Só está um pouco gorda”, e insiste:

- “Linda demais, como sempre. Só está gorda”. 

Como sempre, em situações esdrúxulas, não tive reação e fiquei com cara de nada. O que não deu para evitar foi a raiva que senti depois. Minha alegria em revê-lo se transformou imediatamente em mal-estar. Eu tenho um talento especial para atrair pessoas esquisitas e nem sempre acho isso uma coisa ruim. Pessoas esquisitas são especiais e, muitas vezes, a gente precisa de uma boa dose de excentricidade para enfrentar os imprevistos da vida. Aquele comentário dele, no entanto, me fez sentir invadida e exposta, como se aquele quase estranho tivesse rasgado minha roupa no meio da rua. 

Vocês já pararam para notar como nós, mulheres, em um momento ou outro, sempre acabamos sendo alvo de observações não solicitadas sobre nossos corpos por aí? Não me lembro de ter perguntado a meu conhecido sem noção se eu estava feia ou bonita, gorda ou magra. É simplesmente muito ofensivo que um comentário como esse seja a frase que abre uma conversa com uma pessoa com a qual você não tem intimidade. Dizer isso antes mesmo de um “oi / como vai / há quanto tempo” é grosseiro e invasivo.

As pessoas não nos poupam de seus comentários sobre nosso peso, nossa aparência e os cuidados que temos ou deixamos de ter com ela. Se vacilar, esses comentários se expandem até nossas vidas sexuais e amorosas. “Tá com a perna toda cabeluda, deve estar solteira”. “Se depilou e comprou calcinha nova. Hoje vai dar pra alguém”.

Me intriga e irrita muito essa obsessão que o mundo tem com o corpo feminino, suas vidas e essa mania de achar que nós, mulheres, estamos sempre receptivas a comentários sobre a forma como nos apresentamos para o mundo. Homens não são alvos tão frequentes de observações não solicitadas sobre seus corpos como nós. Numa sociedade tão machista e misógina como a nossa, existe uma expectativa constante de que mulheres sejam apenas seus corpos e que eles não questionem nunca o que esse mundo doente quer que eles signifiquem.

Por isso, mulheres, não ousem ser gordas, a menos que vocês sejam mães de alguém e já tenham passado dos 60. Se saírem na rua exibindo alguns fios de cabelo branco, é bom ter uma explicação na ponta da língua, tipo “essa semana foi o maior corre-corre”. Se você sair sem maquiagem, o mundo vai achar que você se entregou, que está depressiva e não se cuida mais. Mas cuidado: homens não gostam de maquiagem demais. Não vista saia curta demais, senão vão achar que você está querendo se aparecer, ou até pedindo para ser assediada. Mas não vai sair com essa roupa cobrindo demais o corpo porque você não é beata e corre o risco de não arrumar quem te queira.

Affffff, isso cansa! Fico me perguntado se existe alguma forma de acertar enquanto mulher numa sociedade como essa. Me parece sempre que só temos duas alternativas: viver presas em caixinhas demarcadas para nós, eternamente escravas subservientes para sermos aceitas, ou chutar o pau (figurativamente, mas, muitas vezes, literalmente mesmo), recusar rótulos e para sempre sermos tachadas de chatas, difíceis e “feminazis”.

Eu tenho procurado uma alternativa. Comecemos devagarzinho, fazendo pequenas mudanças, que, no final, acabam fazendo uma diferença enorme. Podemos, por exemplo, fazer tentativas sinceras de guardar nossas opiniões sobre a aparência e as vidas alheias para nós mesm@s, principalmente quando se tratar das vidas de outras mulheres. 

Sei que falar d@s outr@s, muitas vezes, é uma espécie de ritual catártico e eu não estou propondo que ninguém vire sant@ de uma hora para outra, mas estou sugerindo que, aos poucos, a gente vá mudando o foco de nossas observações, que comecemos a nos questionar, de forma consciente, se comentar o peso de fulana, a roupa de ciclana e a aparência de beltrana é realmente importante para nós e para a pessoa que vai ouvir. Será que, comentando isso, iremos, de alguma forma, provocar alguma mudança positiva onde quer que seja?

Se a resposta for sim, e se essa pessoa for próxima de você, vá fundo, comente, ajude, elogie, sugira formas de melhorar. Se não, na moral, faça um favor à humanidade e guarde seu comentário para você.

Revisado por Marina Hatty:-)