domingo, 8 de janeiro de 2017

Desconstruções


O que eu mais quero na vida é envelhecer e que minha velhice me traga sabedoria. A gente se habituou a associar o passar dos anos com amadurecimento como se isso fosse uma questão óbvia, uma qualidade que necessariamente vem para qualquer um que resistir às malícias do tempo. Eu não consigo concordar com isso. 

Sabedoria para mim é o resultado de um constante estado de alerta e uma atenção incansável direcionada ao próprio desenvolvimento pessoal. Essa dedicação, no entanto, não deve ser confundida com um envolvimento egocêntrico consigo mesmo e sim com um olhar persistentemente crítico, porém amoroso, com nossos pensamentos e sentimentos. Quem exercita assim seu mundo interior, só pode acabar adquirindo sabedoria.

Esse meu projeto de virar anciã cheia de experiências e palavras sábias para os mais jovens, me faz me manter em constante estado de alerta com meus sentimentos e ideias. Se quiser conseguir ser uma velhinha cheia de boas lições para dar, é necessário que eu sempre reveja os conceitos nos quais eu acredito.

Ser sábia também significa poder viver de acordo com o espírito da época e com as ideias do momento. Nesse ponto concordo absolutamente com meu conterrâneo Raul Seixas e me recuso a “sempre ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Foi pensando nisso que entrei em contato com a necessidade de descontruir. 

Descontruir velhas ideias e pensamentos ultrapassados é necessário para evoluirmos e nos tornarmos pessoas melhores. Hoje em dia, olho para o meu passado e me relembro de vários momentos nos quais acreditei em coisas das quais hoje em dia não tenho muita certeza. Às vezes minhas crenças antigas eram tão infames que quando me relembro delas, chego a sentir uma certa vergonha. O tempo foi passando e com ele passei a entender que me envergonhar de quem eu fui no passado, não me ajuda em nada agora. 

Ao invés de me sentir estranha pelas besteiras que um dia eu disse e nas quais acreditei, resolvi fazer delas minhas aliadas em meu processo de crescimento pessoal. Atualmente, toda vez que descubro alguma crença meio ultrapassada misturada ali no meu repertório, me pergunto porque eu antes acreditava nelas, o que aconteceu para eu perceber que elas não faziam mais sentido e finalmente, começo a tentar moldar o conceito que substituirá aquele que não me serve mais. Quer dizer, só quando necessário. Como eu disse aí em cima, decidi também que nem sempre preciso ter uma opinião sobre tudo. Este é o meu processo de desconstrução. 

Desconstruir se tornou um verbo indispensável na minha vida. Com ele posso olhar para as coisas nas quais acredito sem pânico e sem medo. Sei que as ideias que tenho hoje podem mudar amanhã e que isso não só é normal, como é também indispensável para o meu projeto de vida com mais sabedoria. 

Parte de mim acha que vivendo a vida assim, vai chegar um dia em que eu não vou mais ter certeza de nada, mas essa é que é a grande beleza de desconstruir. Cada vez que a gente desconstrói, criamos a oportunidade de, se assim quisermos, reconstruirmos algo novo que pode ser mais completo, mais sólido e mais bonito do que o que tínhamos antes. E esse constante construir e desconstruir não precisa acabar nunca, muito pelo contrário: deixemos que ele se confunda com a própria vida.

E aí? Você já descontruiu algum pensamento antiquado hoje?