Apesar de estar vivendo aqui em
Bremen há quase seis anos entre idas e vindas eu ainda não tinha me sentindo
estrangeira. Deslocada sim, meio estranha e diferente de todos também, mas
nunca verdadeiramente estrangeira. E isso era uma coisa boa já que a vida para
estrangeiros aqui nem sempre é um mar de rosas.
Até que duas semanas atrás comecei a
ver bandeiras alemães por toda parte. A princípio foi curioso, mas quando não
só o número como também o tamanho das bandeiras começou a aumentar, fui ficando
meio assustada e comecei a achar que tinha uma guerra acontecendo por aqui da
qual eu ainda não tinha me dado conta. Pouco antes de entrar em pânico descobri
que o país estava em contagem regressiva para o campeonato Europeu de futebol,
conhecido por aqui com EM (Europa Meisterschaft). Por aí vocês deduzem o quanto
eu me ligo em futebol... Minha (falta) de empolgação com esportes à parte, os
fãs do futebol com suas bandeirinhas tem dado muito pano pra manga na discussão
sobre o orgulho nacional por aqui.
Como Ubaldo Ribeiro, muito
precisamente observou em seu livro de crônicas “Um Brasileiro em Berlim”, até
bem pouco tempo atrás a coisa mais difícil de se achar aqui na Alemanha era um
alemão. Quando se perguntava “De onde você é?” As pessoas respondiam orgulhosas
que eram da cidade tal ou de uma certa região, mas nunca que eram da Alemanha.
Dizer que era alemão, era mais ou menos como confessar um defeito horroroso.
Coisas do passado de guerras...
Hoje em dia, discute-se muito sobre
isso e sobre quantas gerações serão obrigadas a viver sentindo vergonha e se
desculpando pelas atitudes de seus antepassados até que passe a ser tranquilo
assumir sua própria nacionalidade, ou poder pendurar a bandeira de seu país nos
seus carros ou nas janelas de suas casas sem que com isso uma polêmica seja
levantada. Nunca fui contra sentimento de nacionalismo se não é doentio nem
babaca como o de muitos americanos. Mas ver esse monte de bandeira todo dia me
faz lembrar a todo instante que eu não sou daqui. Sou estrangeira. E
sinceramente, como diria meu marido, um polonês naturalizado alemão, esse monte
de bandeira alemã hasteada ao mesmo tempo dá um medo...