No meu aniversário este ano resolvi
fazer algo diferente do que sempre faço em aniversários e me mandei pra um SPA
perto de Leipizig. Aqui na Alemanha existem uns vilarejos no fiofó do mundo que
por serem muito retirados e basicamente não terem atrativo nenhum, acabam se
resignando a serem retiros. Essas cidades recebem a denominação de
"Bad" e se tornam o destino de pessoas interessadas em se isolarem
por razões diversas: meditação, tratamentos psicológicos, tratamentos de
beleza, terapias anti-stress, o escambáu. São lugares onde o maior agito é o
som dos pásssaros cantando pela manhã e das árvores sendo agitadas pelo vento
durante a noite. Por isso se alguém convidar vocês para visitar uma cidade cujo
nome seja Bad- alguma coisa, tenham medo.
Enfim, fui para Bad Düben com meu amor, rumo a uma estadia de dois dias em um
hotel-spa encravado no meio de um bosque lindo e onde, como já expliquei , não
tinha nada pra ver nem pra fazer a não ser relaxar e ... o hotel era lindo e eu
nem desconfiei de nada quando o recepcionista nos entregou o mapa do hotel e eu
vi na legenda uma coisa chamada "Bademantelgang" (caminho do roupão).
Nos acomodamos e fomos explorar a área. Muito verde, piscinas e saunas de todos
os tipos imagináveis. Resolvemos começar aproveitando as saunas e quando tirei
meu roupão e meu amor viu que eu estava de biquini, ele me informa, para meu
terror, que eu teria de me despir completamente. Minha pergunta: "Como
assim?" resposta: " Nessa área do hotel só pode ficar pelado."
Minha reação: "Hã?"Depois de muita discussão do tipo
tira-não-tira-o-biquini, resolvi a contra-gosto vestir a fantasia de Eva, mesmo
sem entender o porquê de se ter de estar como se veio ao mundo para poder ir à
sauna.
Aqui na Alemanha as pessoas não precisam de muita desculpa pra deixarem cair as
toalhas e revelarem suas coisas sem o menor constrangimento. Eu já tinha
entrado em contato com essa nua realidade em diversos parques, piscinas e lagos
por aqui onde as pessoas (prestem atenção!) tomam banho de calção e biquini e
antes de irem embora, tiram a roupa ali mesmo na frente de todo mundo, vestem a
roupa seca e vão embora. Meu amigo-irmão Lubisco, que já morava aqui antes da minha primeira
chegada em 2002, me alertou para isso. Ele chamou minha atenção para um
interessante paradoxo que acontece por aqui: você reconhece as brasileiras nas
piscinas pelos biquinis minúsculos que pouco deixam para a imaginação. Os
alemães ficam horrorizados com nossa economia têxtil, mas acham a coisa mais
natural do mundo tomarem sol sem a parte de cima do biquini e ficarem
desfilando sem roupa por aí.
Confesso que meu constragimento em Bad Düben durou apenas meia hora. Depois
disso eu nadei, feliz da vida com minhas coisas sendo exibidas livremente. Me
senti a própria protagonista da Lagoa Azul. Hoje em dia estou convencida de que
roupa é uma bobagem. Pra falar a verdade estou escrevendo esse texto agora
mesmo da mesma forma como vim ao mundo. Quem me acompanha nessa?